sexta-feira, 24 de abril de 2020

200424 - Coronavírus: Testículo

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Após novo coronavírus ser achado em testículo, estudo vai verificar presença no sêmen
Pesquisa vai investigar presença do vírus em fluidos e seus efeitos, trazendo dados que podem ajudar a desenvolver tratamentos complementares para a COVID-19

Um estudo realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) parte da similaridade celular entre os pulmões, rins, testículos e epidídimos (ducto que coleta e armazena os espermatozoides) para buscar a presença do novo coronavírus no organismo. O vírus tem como alvo principal os pulmões, mas em cerca de 7% dos pacientes em estado grave é verificada a insuficiência renal. Portanto, outros órgãos se tornam possíveis portas de entrada para o vírus, que precisa penetrar na célula para levar ao adoecimento. Um grupo da FMUSP que realiza necropsias em pacientes de COVID-19, por exemplo, já detectou o vírus em testículo e glândulas salivares.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Jorge Hallak, da FMUSP, pesquisador e coordenador do Grupo de Estudo em Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados (IEA), explica que os pulmões possuem receptores denominados ACE-2, também presentes nos testículos, epidídimos e rins. A partir dessas informações, o estudo se debruça sobre quais acometimentos sofrem esses órgãos, uma vez que se tornam portas de entrada do sistema corporal para o novo coronavírus, e busca entender o quanto são responsáveis pelo estado geral do paciente.
“Ao estudar o porquê esse vírus entra nas células dos testículos, vamos tentar encontrar mecanismos que consigam inibir a ação do patógeno na célula. O paciente que está internado e não está grave pode, com o devido consentimento, ter o espermatozoide ejaculado e utilizado na pesquisa. Sendo uma célula que sai do corpo, não é preciso fazer biópsia ou outro exame invasivo”, afirma o médico.
Hallak informa que, além de identificar se há ou não presença do vírus no sêmen, o estudo vai verificar em que estágio da doença o vírus se faz presente na ejaculação. Confirmada a presença no sêmen, o vírus poderá ser cultivado em laboratório para que seja analisada a sua viabilidade em outros fluidos. Com isso, será possível estudar “toda uma cadeia de testes para analisar os radicais de oxigênio (moléculas prejudiciais à célula) e um fenômeno que ocorre quando a membrana externa do espermatozoide sofre danos destrutivos”.
O professor complementa que a “doença tem uma característica particular já conhecida: uma tempestade de citocinas, que são substâncias altamente metabólicas, inflamatórias e imunológicas, então o indivíduo não morre pelo vírus, mas sim por seu efeito no metabolismo, causando uma reação inflamatória brutal”.
Na sua avaliação, além de inédito, esse estudo tem grande relevância: “Já se conhecem alguns mecanismos de lesão no espermatozoide e nos testículos, e com a pesquisa poderemos, eventualmente, oferecer outro tratamento complementar para auxiliar na evolução dos pacientes no curto prazo”.
Hallak lembra que os homens são os mais suscetíveis à evolução para um quadro grave da COVID-19, o que ocorre principalmente pelo fato de se prevenirem menos do que as mulheres e buscarem menos ajuda médica. “A interação do metabolismo desses indivíduos com fatores externos faz com que eles não tenham uma resposta imunológica ou inflamatória boa frente ao agressor.”

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