sábado, 8 de outubro de 2022

09 + "Eu comeria um índio"

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'EU COMERIA UM ÍNDIO':

rivais aproveitam canibalismo de Bolsonaro desenterrado

Em vídeo agora viral de uma entrevista de 2016, o presidente brasileiro afirma que comeria carne humana

Tom Phillips in Rio de Janeiro – Domingo, 9 Out 2022 – 15:58

 

Foi uma declaração chocante, mesmo para um político que glorificou torturadores e pediu que rivais fossem baleados.

"Eu comeria um índio, sem problema algum", se gabou de Jair Bolsonaro a um jornalista estrangeiro em 2016, ao descrever uma viagem a uma comunidade indígena onde supostamente lhe ofereceram a chance de consumir carne humana.

Líderes indígenas rejeitaram a ostentação de Bolsonaro como mais uma mentira do presidente de extrema-direita do Brasil. O povo yanomami do território que Bolsonaro afirma ter visitado dizem que nunca se envolveram em tais atos.

No entanto, imagens dos comentários de canibalismo de Bolsonaro – transmitidos pela primeira vez em seu canal oficial no YouTube há seis anos – viralizaram nas redes sociais e foram apreendidas pela oposição brasileira como mais uma prova da depravação do presidente.

"Bolsonaro revelou que comeria carne humana", declarou na sexta-feira um anúncio de televisão produzido pelo rival de esquerda de Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva, após a divulgação das declarações.

Lula quase venceu Bolsonaro no primeiro turno da eleição presidencial brasileira no último domingo e espera terminar o cargo quando 156 milhões de brasileiros votarem em um confronto em segundo turno entre os dois homens em 30 de outubro.

Em seus esforços para reeleger Lula, presidente do Brasil de 2003 a 2010, sua campanha se aprofundou no extenso catálogo de pronunciamentos insensos e inflamatórios de Bolsonaro.

Um anúncio recente de Lula mostra Bolsonaro empurrando uma política feminina e chamando-a de "puta". Em outra cena, o direitista zomba das vítimas de Covid e finge estar ofegante por ar.

Mas o anúncio de campanha de sexta-feira foi talvez o mais chocante até agora.

O ministro das Comunicações de Bolsonaro, Fábio Faria, chamou o anúncio de Lula de "fake news" e afirmou que os comentários foram distorcidos. Os advogados de Bolsonaro exigiram que as autoridades eleitorais proibissem o anúncio.

Uma análise da entrevista completa de 76 minutos com o jornalista do New York Times Simon Romero deixa poucas dúvidas sobre a natureza das observações de Bolsonaro.

Depois de descrever a miséria que testemunhou durante uma visita ao Haiti, Bolsonaro deixa de discutir mulheres haitianas "anti-higiênicas" oferecendo sexo a fazer afirmações sobre canibalismo supostamente sendo perpetrado no território yanomami da Amazônia.

"Houve uma vez que eu estava em Surucuru... e um índio tinha morrido e eles estavam cozinhando-o. Eles cozinham índios. É a cultura deles", afirma Bolsonaro sobre a aparente confusão do correspondente.

"Seus corpos?", responde o jornalista.

"Seus corpos", confirma Bolsonaro.

"Mas não para comer?", pergunta o jornalista.

"Sim, para comer", responde Bolsonaro, então um deputado obscuro. "Eles cozinham por dois ou três dias e depois comem com banana. Eu queria ver um índio sendo cozido mas o cara disse que se você for, você tem que comê-lo. "Eu vou comê-lo", eu disse. Mas ninguém mais no meu grupo queria ir... então eu não fui. Mas eu comeria um índio, sem problema algum. É a cultura deles."

Líderes e antropólogos yanomami denunciaram as alegações "delirantes" e preconceituosas de Bolsonaro. "Meu povo não é canibal... Isso não existe nem nunca existiu, nem mesmo entre nossos antepassados", disse o ativista yanomami Júnior Yanomami ao jornal Folha de São Paulo.

"Bolsonaro é um mentiroso compulsivo", tuitou Sônia Guajajara, líder indígena que acaba de ser eleita para o Congresso.

Lula negou ter espalhado desinformação. "Eu vi a filmagem... Não é invenção, estamos simplesmente deixando as pessoas saberem como é nosso adversário", disse ele aos apoiadores, alegando que os estrangeiros estavam evitando o Brasil "por medo do canibal".

No sábado, uma decisão liminar de um juiz eleitoral ordenou ao Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula retirar um anúncio que arriscasse prejudicar a reputação de Bolsonaro e afetar "a integridade do processo eleitoral". O juiz argumentou que as observações de Bolsonaro "referiam-se a uma experiência específica em uma comunidade indígena, vivida de acordo com os valores e a moralidade existentes nesta sociedade".

A decisão parecia fechar a porta do estábulo depois que o cavalo tinha fugido. No domingo, as redes sociais foram inundadas com menções de "Bolsonaro Canibal" e memes comparando o presidente a Hannibal Lecter e ao serial killer Jeffrey Dahmer. As imagens da declaração de Bolsonaro foram vistas milhões de vezes.

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