Número de casos de COVID-19 no Brasil
pode ser até sete vezes maior do que o oficial, diz pesquisa
Estudo aponta ainda
que situação é mais grave na Região
Norte do país
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O Brasil pode ter sete vezes mais casos de
contaminação pelo NOVO CORONAVÍRUS
do que os 374.898 confirmados
oficialmente até esta segunda — as mortes já
somam 23.473, 807 delas contabilizadas de domingo para segunda. A subnotificação
é apontada por estudo da Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL), financiado pelo governo
federal, feito para estimar
a porcentagem da população contaminada pelo SARS-CoV-2.
Pesquisadores foram às ruas de 133 cidades de
todas as regiões e coletaram o sangue
de 25.025 pessoas, submetidas também a um rápido questionário. Em 90 dos
municípios visitados, foram realizados 200 testes ou mais. Estes locais
correspondem a 25,6% da população nacional, totalizando 54,2 milhões de
habitantes. O estudo estima que até 760 mil brasileiros estão ou já foram
infectados. É cerca de sete vezes mais do que as 104.782 notificações somadas
nestas localidades em 13 de maio, um dia antes de a pesquisa ter sido
iniciada.
Os próprios pesquisadores, contudo, pedem que
os dados desses 90 municípios não sejam tomados como base para o restante do
país. Segundo eles, o mais importante é mostrar o nível de prevalência e
de subnotificação em cada região. Neste
sentido, é na Norte que os dados são mais preocupantes.
Das 15 cidades com maior índice de
prevalência, 11 são da Região Norte. Em Breves
(Pará), que
ocupa o topo deste ranking, cerca de um quarto da população pode já ter sido
infectada pelo novo coronavírus.
Localizado na Ilha
de Marajó, o município é apenas o 17º mais populoso
do Pará, com
102,7 mil habitantes. Dos 250 testes realizados no local, 24,8% deram
positivo. Levando este percentual para a população total da cidade, equivale
a dizer que 25.600 pessoas podem já ter tido contato com o coronavírus.
Esse número é 87 vezes maior do que o de notificações do dia 13 de maio.
Em Castanhal,
também no Pará,
a subnotificação
é igualmente alta. De acordo com a pesquisa, 15,4% da população pode já ter
sido contaminada. Em números reais, trata-se de mais de 30 mil pessoas. Em 13
de maio, no entanto, eram 271 casos notificados. Ou seja: a contaminação pode
ser até 111 vezes maior do que a identificada pelas autoridades.
Castanhal é a terceira cidade
com maior índice de prevalência segundo o levantamento. Entre ela e Breves,
está Tefé (AM), com
uma possibilidade de até 19,6% da população já ter sido contaminada. As
capitais Belém,
com 15,1%, Manaus
(12,5%) e Macapá
(9,7%) completam o topo desta lista, que joga os holofotes para o Norte do
país.
— As diferenças observadas entre as cidades
confirmam duas coisas. Primeiro, que há várias epidemias em diferentes estágios
no Brasil. Segundo, que a Região
Norte tem o cenário epidemiológico mais preocupante do país
hoje — atesta o epidemiologista Pedro Hallal,
reitor da UFPEL.
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Um olhar sobre as dez capitais com maior
prevalência ajuda a compreender o quão diferente é a situação em cada parte
do país. A comparação entre os números oficiais em 13 de maio e os apontados
pela pesquisa mostra que, em Manaus,
o contágio real pode ser 20
vezes maior do que o oficial. Em Recife e
no Rio de Janeiro,
pode ser 13,4 vezes maior. Em São
Paulo, 11 vezes. Já em Vitória,
4,8.
— No Brasil nós não fomos capazes de expandir
significativamente nossa capacidade de testagem. Embora alguns estados tenham
ampliado, nacionalmente você não teve iniciativas coordenadas. Com isso os
números continuam claramente subnotificados
— comenta Fernando
Bozza, chefe do Laboratório
de Medicina Intensiva do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas,
da Fiocruz, e coordenador de
pesquisa do Instituto D’Or.
PREVISÕES SÃO PREJUDICADAS
As subnotificações
se revelam um problema em diversas frentes. Elas prejudicam a implementação
de uma política de saúde mais eficaz no combate à COVID-19,
pois tornam mais difícil traçar um retrato fiel de cada estado. E ainda
limitam o trabalho de quem busca prever o comportamento da doença no país.
— Sem saber a real notificação é impossível
fazer uma previsão e apontar quando vai ser o pico da doença — exemplifica Wesley Cota,
pesquisador da Universidade Federal
de Viçosa (MG), que trabalha com monitoramento de
casos de COVID-19
com o objetivo de prever a incidência do vírus.
— Em Viçosa,
quando começaram a perceber que havia casos assintomáticos confirmados por
testes privados, viram a necessidade de testar nas ruas. Mas esse é um
problema muito complexo. Os estado e os municípios apresentam diferenças
grandes.
As 133 cidades visitadas foram escolhidas por
serem consideradas satélites das regiões administrativas do IBGE.
Em cada um dos municípios, foram sorteados os setores censitários (também
estabelecidos pelo IBGE), que contam com 300 residências cada um. As casas e
os moradores também foram escolhidos por sorteio, numa escolha que deixa o
universo examinado quase que totalmente definido pela aleatoriedade.
O planejamento era de que, somente nesta
primeira etapa, 33.250 pessoas fossem testadas. No entanto, dificuldades
impostas pelas prefeituras de alguns
municípios impediram que esta meta fosse atingida. Por isso, 43 cidades não
tiveram o resultado divulgado. Ao todo, a pesquisa será realizada em três
rodadas, com um intervalo de duas semanas entre cada uma.
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